Páginas

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Desnaturalizando...


Sandro Luis Fernandes

Às vezes usamos equivocadamente a palavra NATURAL ao invés de CULTURAL ou COMUM. O que acontece é uma confusão em relação ao que nascemos fazendo e o que aprendemos ou fazemos com frequência.

Rapidamente pensei sobre as leis contra o fumo. O mais importante foi desnaturalizar algo que já foi “natural”, ou melhor comum e cultural. Ou seja, aceito pela maioria.

Foi natural artistas fumarem. Também foi crianças comprarem cigarro para adultos. Comprei muito Mauá (cigarro sem filtro) para minha Vó Ladi nos anos 70. Estava conversando com amigos na faculdade que leciono e agora para fumar eles têm que pensar e tomar atitude. Não se pode simplesmente acender um cigarro. Tem que se deslocar ao local apropriado. Neste caso à Rua. Lembro-me das minhas aulas como aluno da UFPR no começo dos anos 90, alguns professsores fumavam durante a aula!!!

O conceito de família também está sendo desnaturalizado. A família margarina que acorda todo dia (pai, mãe e filhos) e toma café todos juntos. Foi trocada por pais e filhos que se encontram apenas no fim de semana para almoçar juntos, e às vezes o contato é efetivo somente em datas festivas.

A mudança não pára neste nível. Há mães e filhos vivendo juntos. Ou pais e filhas. Apenas o casal (hetero ou homossexual). Número de filhos diminuindo. Menos casamentos formais. Mais recasamentos. Menor número de filhos. Daí vem novas relações sociais.

Mas todo este início sobre comum, natural e cultural para falar de uma profecia minha de um ano atrás. Eu usei o conceito natural e me equivoquei. Uma vizinha de 13 anos, abandonou a escola e ficava conversando na rua até tarde com amigos do seu tio. Eu disse, é natural que vá engravidar em menos de um ano. Acertei. Está grávida, vive com os pais. Não tenho intimidade para perguntar quem é o pai. Mas desconfio que não é o genro que a maioria das mães de classe média ou alta gostaria de ter. Aliás, a menina, com seus pais, vive num casebre, com poucas condições econômica e de saneamento.

Não foi natural, infelizmente é comum. Jovens chegando às portas do ensino médio descobrem que estudar não dá prazer imediato. O que dá prazer imediato é sair com amigos, ficar, sexo, drogas, vídeo-game, internet, conversar no celular...

Falta resiliência? Faltam perspectivas?

Claro está que é comum, mas não é geral.

Agora o problema: pensei na minha adolescência. Muitos amigos não chegaram ao ensino médio. Se chegaram, não terminaram. Não sei quantos, mas pensando na minha turma de ensino médio, que foi diminuindo ao decorrer de três anos de estudo em Guarapuava. Alguns estão terminando a faculdade agora. Não é estatística suficiente, eu sei. Mas me assusta o fato de alguns conhecidos da minha adolescência estarem presos e outros terem morrido violentamente.

Então, isto é “natural” já há algum tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário