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sexta-feira, 30 de julho de 2010

A inflação segundo meu amigo CAJU


José da Silveira Filho

QUADRO – INFLAÇÃO – IGP anual X acumulado*

Acesso em 14. jun. 2010.

* Calculado pelo autor.

Um dos temas mais relevantes encontrados na economia se chama inflação. Trata-se de um fenômeno produzido pela sociedade dos homens que afeta de maneira indistinta todas as pessoas. O que difere é o grau como são afetadas. Não é preciso extraordinário esforço intelectual para encontrar uma definição iniciante mais ou menos esclarecedora que com segurança pode ser extraída de qualquer bom manual de Introdução à Economia. Seria algo bem parecido com isto:

“A inflação se caracteriza por uma alta generalizada de todos os preços da economia.”

Este seria o ponto de partida até consensual. Ao primeiro olhar é isto mesmo. O aspecto mais difícil está em explicar as repercussões e a causa dela. Num primeiro momento, este escrito pretende abordar as repercussões dessa alta dos preços na vida dos trabalhadores assalariados, a maioria esmagadora da população.

O problema da inflação está justamente na possibilidade de sua generalização. Todos os preços são afetados por se intercomunicarem uns com os outros. Se o preço do aço se eleva, há uma propagação para todas as mercadorias que utilizam este bem intermediário em sua produção. A chapa de aço aumenta de preço na ponta da siderurgia, corre se propagar até o preço da lavadora de roupa, do automóvel, do caminhão, do ônibus, do trator, do garfo, da faca... como numa cadeia de interligações diversas. Os preços de produtos industriais tendem a crescer na proporção do peso que o bem intermediário ocupa na produção. No caso de automóveis, o aço ocupa em média 70% da fabricação do produto. Basta multiplicar 0,7 pelo aumento ocorrido, para saber a proporção do impacto na mercadoria produzida.

O transtorno da inflação começa bem aí. No caso de um ônibus, o preço deste vai se elevar e a empresa de transporte que necessita comprar o produto terá de repassar o novo custo no preço da tarifa de transporte a ser paga pelos passageiros usuários.

No outro lado, o extremo do consumo, o passageiro trabalhador não tem como repassar esta majoração e precisa do transporte coletivo, ele se obriga a pagar se quiser se locomover para o trabalho. Como o salário não consegue de imediato acompanhar a elevação súbita de preço, a inflação termina no seu ponto mais frágil. Neste aspecto reside um ponto fundamental da inflação, a impossibilidade dos salários eliminarem a defasagem no mesmo intervalo de tempo em relação aos demais preços que entram em alta. Somente num determinado período do ano, haverá a oportunidade de recuperar as perdas, anulando os aumentos. São as épocas de dissídio coletivo, o que depende do poder de barganha sindical, quando se confrontam o sindicato patronal versus os dos trabalhadores. Até lá, os trabalhadores transferiram uma parte de seu salário para cobrir o aumento de preços e irão amargar uma redução de valor em seu poder de compra. Não se pode esquecer que o salário é também um preço. É o preço que o empregador capitalista paga para utilizar no dia a dia a capacidade produtiva de alguém com a maior eficiência possível. Senão o capital não cumpre sua função. Seria qualquer coisa, menos capital. Para ser capital, ele precisa se valorizar, acumular, crescer e é preciso alguém, algum este especial, para concretizar na prática este objetivo. Sozinhas, as máquinas não se movem, um prego não se crava na paredes. Somente no saudoso desenho dos Jetson isso poderia acontecer e mesmo assim requeria alguém que viesse apertar o botão para ligar os aparelhos que todas as tarefas executavam.

Quando a inflação permanece em pequenos patamares, considerados aceitáveis pela sociedade, de tal forma que os aumentos possam ser absorvidos e anulados no período de tempo anual, ela traduz apenas o funcionamento normal da dinâmica da própria economia. Os atrapalhos principiam quando os preços infletem em alta descomedida e incontrolável podendo durar longos anos.

Na situação da economia brasileira, a inflação açoitou principalmente os trabalhadores brasileiros e pequenos e micro empresários durante desapontadores 20 anos. O descontrole permanente e total dos preços inicia em 1974, com a eclosão do choque do petróleo e termina somente em 1994, com o advento do Plano Real.

Agora, é chegado o momento de mensurar a escalada inflacionária desses anos terríveis. Para tanto, foi escolhido apenas um medidor inflacionário dentre vários: o IGP. Foi selecionado por simples razões. Estima a inflação no eixo Rio-São Paulo, onde está a maior parte da população de classe trabalhadora e o grosso do PIB brasileiro. Mede preços no atacado, no varejo e na construção civil. E, desde que iniciou sua trajetória, nunca modificou sua metodologia, permanecendo fiel ao critério estabelecido na origem. Quando a metodologia é modificada, dependendo da alteração, pode se lidar com um novo índice com outra abrangência e significado. Parte-se do pressuposto de que, no restante do Brasil, o comportamento inflacionário é estatisticamente similar, pouco acima ou pouco abaixo dessa média geral. Fornece um panorama do que foi, do que se enfrentou no cotidiano.

Em vinte e um anos, a inflação acumulada alcançou 145.089.037.419.738 por cento. Atinge

esse número fantástico porque a inflação de cada ano se multiplica pela do ano seguinte e assim prossegue como numa espiral cônica com círculos cada vez mais largos. É um tufão financeiro destruidor. Quer dizer, se alguém pagasse na moeda da época 1 dinheiro por uma passagem de transporte coletivo urbano em primeiro de janeiro de 1974, decorridos vinte e um anos, pagaria 145,089 trilhões de dinheiros pela mesma prestação de serviços no dia 31 de dezembro de 1994, caso a moeda não tivesse trocado de nome nem cortado nenhuma casa decimal.

E os salários, quanto perderam? Vamos responder esta pergunta na próxima janela, examinando o salário mínimo, base de todos os demais.

(*) Professor do curso de Economia com ênfase em Mercado Financeiro das Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba - Inove.

- A JANELA ECONÔMICA, é um espaço de divulgação das idéias e produção científica dos professo­res, alunos e ex-alunos do curso de economia das Faculdades Integradas Santa Cruz - Inove.

- Cada artigo é de responsabilidade dos autores e as idéias nele inseridos, não necessariamente, refletem o pensamento do curso.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Copa do mundo e as mulheres...

Antes incompatíveis, por questões de preconceito de gênero. Há algum tempo a mudança é visível. As mulheres estão se aproximando do futebol, não apenas jogando, mas assistindo mais. Vide os estádios no campeonato regional e no nacional.

Mas durante a copa do mundo a aproximação com os jogos é maior. Jogos diários valorizados sobremaneira pela mídia conduzem um espetáculo de gols (mesmo que seja pela repetição).

Esta é copa das estatísticas e das mulheres. Não havia visto tantos números significativos juntos. Distância percorrida pelos jogadores, dados de confrontos anteriores, passes certos, erros, chutes, velocidades, etc., mas o que me chama mais atenção é o envolvimento das mulheres.

Elas não aceitam mais brincadeirinhas com o fato de não entenderem de futebol. A enorme quantidade de comentários e informações as suprem de dados para dar pitacos em área que antes eram restritas aos homens que passavam os fins de semana com a TV ligada para ver o esporte bretão.

Nestes dias sul-africanos, durante um jogo da primeira fase, provoquei minha esposa (que só vê jogos do Inter de Porto Alegre quando este vai para alguma final) afirmando que os únicos que podem pegar a bola com a mão durante o jogo é o goleiro e o gandula. Ao que ela prontamente retrucou, gandula não joga. Eita mulherada afiada. Claro que acontecem coisas hilárias com o entusiasmo feminino. Vou compartilhar algumas.

· Professora Eliane (Sede Batel) comentando o primeiro jogo do Brasil (2x1 na Coréia do Norte):

– O Ronaldinho, digo, Robertinho não estava jogando nada...

· Professora de EF1 (Sede Batel):

– GOL! GOOOOLL!!!

Professores acabando com a alegria solitária:

– Não foi gol, é replay!

· Sede Mercês, a orientadora Patrícia, exclamou:

– Não gostei do jogo do Brasil. O time tava apático, os jogadores estavam lentos.

Pergunta deste professor que vos escreve:

– Quantos jogos você assistiu nos últimos meses?

– Nenhum. Aliás, vi um pouco deste jogo do Brasil.

Mas gosto desta alegria pela alegria na copa. De reunir as pessoas que gostamos, falar coisas sem compromisso. E principalmente da sinceridade das mulheres. Gosto também do nosso patriotismo de quatro em quatro anos. Pena que seja durante pouco tempo com grande intervalo. Vamos ver se na próxima (2014) estenderemos mais o período patriótico, mesmo que ela (a copa) não seja realizada aqui (em Curitiba).