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sábado, 24 de abril de 2010

O nosso olhar e Cloverfield: o monstro leviatã da produção de imagens.


Filme interessante (Direção de Matt Reeves, EUA: 2008, 88min.), pois trata de abordagem que apresenta um grupo coadjuvante dirigindo o olhar do espectador. Uma história de ficção científica realizada a partir de uma câmera amadora parece uma contradição técnica e comercial? Mas não é.....

Neste sentido, uma das intenções do diretor é apresentar uma catástrofe a partir de uma situação comum, uma festa. Seguido pela confusão e desespero que não interrompe a vontade de registrar o fato. Eis o argumento principal do filme: um dos personagens não larga a câmera. E também aí está o nosso olhar.....

Lembro da grande quantidade de câmeras e celulares que fotografam e filmam. O olhar sobre o outro e sobre nós atiçado pela curiosidade. A TV e a Rede Mundial de computadores incentivam. Nunca teve tanto material visual para retratar o cotidiano com tamanha velocidade – com qualidade duvidosa.....

A presença no local, na hora, às vezes registra situações surpreendentes e inusitadas. Lembro-me de uma matéria em que o repórter da RPC realizou um salvamento de duas pessoas de um carro que caiu num rio. Enquanto o cinegrafista registrava e não ajudava. Em tempo, só estavam os dois no local para realizar o salvamento.....

Voltando ao monstro. Cloverfield se trata de uma crítica. O personagem que filma tenta ajudar, às vezes, mas não larga a câmera. Os elementos diegéticos, compõem a história intensamente: sem trilha, muitos efeitos sonoros e a câmera nervosa. O filme tem apenas tomadas a partir de uma câmera – esta opção estética, que no começo lembra as filmagens caseiras de festas familiares, nos causa incômodo. Quando lançado nos EUA havia aviso aos espectadores que poderiam sair tontos do filme. Mas a direção do olhar pelo diretor por meio de uma câmera consegue gerar apreensão, impotência, e principalmente, curiosidade.....

E tudo isto... Por quê?....

Evidenciar que a curiosidade, nosso voyeurismo, nos move e produz novos olhares, e com a tecnologia disponível olhar sobre quase tudo. Olhamos cada vez mais, registramos cada vez, nós e os outros a partir da nossa individualidade.....

Porém sentimos menos em relação aos outros, nossos sentimentos são cada vez mais individuais. O nosso olhar registra a proximidade distanciada de interesses coletivos: uma contradição. E Cloverfiled preserva a memória. A memória da nossa época, facilmente acessível pela rede. Nossas festas, inquietudes, trivialidades, urgências, nosso olhar sobre tudo, somos onipresentes, grande irmão de nós mesmos... Nosso monstro desconhecido a nos olhar de perto, nos comer de perto, nos ameaçar de longe.

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