Sandro Luis Fernandes
Sei que rotina é importante. Se for maçante, mude-a. Mas haverá rotina.
Penso na minha rotina de infância: passar a mão num pão de casa com margarina no fim da tarde e sair correndo jogar futebol na rua ou em terrenos “invadidos” e limpos pela molecada. Tive muitas rotinas. Esperar a secretária, vizinha gostosa (calça justa e salto alto), que passava religiosamente no mesmo horário para delírio da piasada. Dormir após acabar o jornal nacional para agüentar madrugar no dia seguinte. Adolescente: ir de bicicleta (barraforte do meu pai) para escola (2º grau), voltar para casa e ir trabalhar (à tarde).
Muitas rotinas quebradas propositadamente. Deixei de ir à missa. Deixei de brincar na rua quando as vizinhas da minha idade começaram a ficar atraentes. Comprei um carro, larguei a bicicleta.
Mas tem muitas que não lembro quando deixei. Ou quando comecei. Não ando mais de bicicleta com meus filhos. Leio jornal toda manhã durante o café. Quando comecei a tomar café da manhã diariamente? Não levo meu filho para fazer xixi durante a noite (fiz isto durante muitos anos). Alimento o cachorro (e prendo) todas as manhãs. Não acompanho mais novelas. Não jogo mais futebol com os meninos. Preparo aulas.
A nossa rotina fica mais complicada com os filhos mais velhos. A logística muda. As vontades não são impostas, são negociadas. E os tempos juntos? A rotina de almoçar ou jantar. Ver um pouco de TV. Até aprendi a jogar videogame para entrar na rotina dos pimpolhões. Eita mundão.
No fim das contas, sei o significado de tudo isto. O ninho ficando vazio. A idade avançando. A reflexão é maior do que ação. Sei que foi o contrário. Enfim à procura de rotinas.
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