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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Cultura, futebol e copa da mundo


Prof. Me. Sandro Luis Fernandes
    O Brasil é o país do futebol? Não. O Brasil é o país dos jogadores de futebol. Tenho pensado 
nisso há algum tempo. Lembro-me do meu pai Marcelino, zagueiro, santista e paranista. Que depois 
de jogar futebol de campo e futsal, machucado, partiu para ser árbitro em Guarapuava (PR): ganhar 
uns trocados e ficar próximo do futebol.
    Meu contato com o futebol começou como gandula e torcedor, às vezes solitário, dos jogos do 
“véio”. Depois passei a jogar (mal) no time da rua, e finalmente me tornei torcedor. Depois de muita 
insistência  familiar  me  tornei  santista,  mesmo  antes  de  começar  a  estudar.  E  por  convicção  e 
influência de amigos me tornei atleticano.
    Retornando à questão inicial: os brasileiros que gostam de futebol e fazem disso parte ou todo 
seu cotidiano marcaram o Brasil como o país dos jogadores de futebol. Clubes fundados no século 
XIX, muitos centenários, liga de amadores por todo o país. A maior liga de amadores do Brasil até 
2008  era  a  do  Estado  do  Paraná.  Na  CBF,  em  janeiro  de  2013,  há  inscritos  11.309  jogadores 
profissionais e 97.513 amadores. Oficialmente, temos muitos jogadores de futebol. Sem contar os 
peladeiros e times de bairro, escolas, empresas, etc.
    E a torcida? Segundo pesquisa publicada na Gazeta do Povo, de 23/12/2012, no Paraná e em 
Curitiba  30%  da  população  não  torce  por  times  de  futebol.  No  Paraná,  a  maior  torcida  é  do 
Corinthians; e em Curitiba, Atlético e Coritiba estão empatados em 22%. Comparando com a pesquisa 
de 2008, pouca coisa mudou no Paraná e, em Curitiba, o Atlético perdeu torcida e o Coxa ganhou. E 
as mulheres, maioria da população brasileira, não vão ao estádio, as poucas que vão sofrem com 
infraestrutura pensada para o público masculino (Os dados citados foram retirados do jornal Gazeta 
do Povo, de 27/09/2012).
    E o que isso me fez pensar? O futebol profissional não é paixão, é comércio. Sabendo disso, a 
Indústria Cultural se apropria do futebol e o vende. Inclusive com estratégias para aumentar esse 
consumo entre o público feminino. Não é à toa o destaque que a imagem da mulher nos estádios 
recebe na mídia. Pesquisas  como essas  servem para estratégias de expansão de torcedores e 
ampliar valores de comercialização da marca, inclusive na televisão.
    Considerando os dados anteriores, tem mais um detalhe importante: boa parte dos torcedores 
paranaenses nunca foram aos estádios verem seus times jogarem. Inclusive dos estados brasileiros 
em que a maioria da torcida é de times da região: SP, RS, RJ e PE. Torcidas de futebol, que vão ao 
estádio para assistir a todos os jogos do seu time, pagando adiantado para isso e fazendo do futebol 
parte da sua vida, estão localizadas, na sua maioria, na Europa. Na Inglaterra até o campeonato da 
segunda divisão tem ingressos antecipados esgotados.
    Então, por que a Copa do Mundo do Brasil? Porque é um negócio. Quem gosta de futebol 
prefere, na sua maioria, jogar ou ver na TV a assistir no estádio. Quatro jogos em Curitiba. Quem
ganha com isso? A CBF? O Atlético? A Rede Globo? A FIFA? A cidade? Talvez... Oportunidades de 
negócios serão criadas, ou melhor, estão sendo ou já foram criadas. As empreiteiras que o digam.
Muitos  estádios  estão  sendo  construídos  em  lugares  que  provavelmente  terão  um  uso 
diferente após a copa do mundo. Ou a tradição do futebol mato-grossense, potiguar e amazonense 
será suficiente para manter a atividade de tais gigantes?
    A Copa do Mundo é show business. Já que é inevitável a participação de Curitiba, mesmo com 
todos os problemas que estão ocorrendo na baixada atleticana, as oportunidades de negócios devem 
ser pensadas, não pela paixão futebolística, mas pela possibilidade de ganhar dinheiro mesmo. E viva 
o capitalismo!

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