Prof. Me. Sandro Luis Fernandes
O Brasil é o país do futebol? Não. O Brasil é o país dos jogadores de futebol. Tenho pensado
nisso há algum tempo. Lembro-me do meu pai Marcelino, zagueiro, santista e paranista. Que depois
de jogar futebol de campo e futsal, machucado, partiu para ser árbitro em Guarapuava (PR): ganhar
uns trocados e ficar próximo do futebol.
Meu contato com o futebol começou como gandula e torcedor, às vezes solitário, dos jogos do
“véio”. Depois passei a jogar (mal) no time da rua, e finalmente me tornei torcedor. Depois de muita
insistência familiar me tornei santista, mesmo antes de começar a estudar. E por convicção e
influência de amigos me tornei atleticano.
Retornando à questão inicial: os brasileiros que gostam de futebol e fazem disso parte ou todo
seu cotidiano marcaram o Brasil como o país dos jogadores de futebol. Clubes fundados no século
XIX, muitos centenários, liga de amadores por todo o país. A maior liga de amadores do Brasil até
2008 era a do Estado do Paraná. Na CBF, em janeiro de 2013, há inscritos 11.309 jogadores
profissionais e 97.513 amadores. Oficialmente, temos muitos jogadores de futebol. Sem contar os
peladeiros e times de bairro, escolas, empresas, etc.
E a torcida? Segundo pesquisa publicada na Gazeta do Povo, de 23/12/2012, no Paraná e em
Curitiba 30% da população não torce por times de futebol. No Paraná, a maior torcida é do
Corinthians; e em Curitiba, Atlético e Coritiba estão empatados em 22%. Comparando com a pesquisa
de 2008, pouca coisa mudou no Paraná e, em Curitiba, o Atlético perdeu torcida e o Coxa ganhou. E
as mulheres, maioria da população brasileira, não vão ao estádio, as poucas que vão sofrem com
infraestrutura pensada para o público masculino (Os dados citados foram retirados do jornal Gazeta
do Povo, de 27/09/2012).
E o que isso me fez pensar? O futebol profissional não é paixão, é comércio. Sabendo disso, a
Indústria Cultural se apropria do futebol e o vende. Inclusive com estratégias para aumentar esse
consumo entre o público feminino. Não é à toa o destaque que a imagem da mulher nos estádios
recebe na mídia. Pesquisas como essas servem para estratégias de expansão de torcedores e
ampliar valores de comercialização da marca, inclusive na televisão.
Considerando os dados anteriores, tem mais um detalhe importante: boa parte dos torcedores
paranaenses nunca foram aos estádios verem seus times jogarem. Inclusive dos estados brasileiros
em que a maioria da torcida é de times da região: SP, RS, RJ e PE. Torcidas de futebol, que vão ao
estádio para assistir a todos os jogos do seu time, pagando adiantado para isso e fazendo do futebol
parte da sua vida, estão localizadas, na sua maioria, na Europa. Na Inglaterra até o campeonato da
segunda divisão tem ingressos antecipados esgotados.
Então, por que a Copa do Mundo do Brasil? Porque é um negócio. Quem gosta de futebol
prefere, na sua maioria, jogar ou ver na TV a assistir no estádio. Quatro jogos em Curitiba. Quem
ganha com isso? A CBF? O Atlético? A Rede Globo? A FIFA? A cidade? Talvez... Oportunidades de
negócios serão criadas, ou melhor, estão sendo ou já foram criadas. As empreiteiras que o digam.
Muitos estádios estão sendo construídos em lugares que provavelmente terão um uso
diferente após a copa do mundo. Ou a tradição do futebol mato-grossense, potiguar e amazonense
será suficiente para manter a atividade de tais gigantes?
A Copa do Mundo é show business. Já que é inevitável a participação de Curitiba, mesmo com
todos os problemas que estão ocorrendo na baixada atleticana, as oportunidades de negócios devem
ser pensadas, não pela paixão futebolística, mas pela possibilidade de ganhar dinheiro mesmo. E viva
o capitalismo!
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