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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Viagem a Cuba... Um pequeno relato.

Sandro Luis Fernandes

Inspirado no meu amigo Hugo que em 2008 fez um relato sobre sua viagem a Cuba. Resolvi também descrever minha experiência e de minha esposa (Rho Gonçalves). Fizemos essa incursão em Cuba devido ao IV Taller Internacional “La enseñanza de las disciplinas humanísticas” y I Seminario científico “La enseñanza artística en el siglo XXI” (Universidad de Ciencias Pedagógicas “JUAN MARINELLO VIDAURRETA”) na paradisíaca praia de VARADERO. Ficamos dois dias em Havana e quatro em Varadero, cidade de Matanzas. De 17 a 22 de junho de 2013.
A primeira coisa que chamou nossa atenção antes de viajarmos foi a necessidade de levarmos euros para trocar por CUCs. Citando meu economista preferido:
“Parece incrível, mas a economia cubana é tão complexa quanto a sua ideologia. Existem duas moedas, o peso cubano e o peso conversível (CUC). Um dólar equivale a 0,8 CUC aproximadamente e um CUC equivale a 25,0 pesos cubanos. Os estrangeiros trocam seus dólares ou euros em CUC’s. Achamos tudo caro. Por exemplo, uma lata de Tu Kola (alternativa à Coca Cola) custa 2,5 CUC ou 3,1 dólares ou RS 5,9. Um almoço custa, em media, 15 CUC ou 18 dólares ou RS 33,00. Caro, não?” (Hugo Eduardo Meza Pinto, 2008)
Dólar eles não aceitam de jeito nenhum... Nem em casas de câmbio. Como levamos euros isso facilitou nossa vida. Mas também foi fácil usar nosso cartão lá para sacar. E não achamos as coisas caras. Talvez porque eles estejam em baixa temporada. Apesar de ser verão lá. A alta temporada é no inverno quando enche de europeus na ilha. Uma cerveja cubana ou um refresco (refrigerante) estava 1,5 CUCs. E um almoço num restaurante simples com boa comida tava em média 7 CUCs por pessoa. Ou em torno de R$ 16,00. Sendo que o 1 CUC estava 1,0 dólar. Em relação à economia é bom frisar que atualmente tem empresas brasileiras, canadenses, venezuelanas, suíças  chinesas e francesas presentes em Cuba. Claro que em parceria com o governo local.

Falei disso porque a economia, segundo os próprios cubanos, está diferente. Os cubanos têm direito a fazer negócio privado pagando uma licença para o governo. Em sua maioria negócios simples. Uma venda em casa com poucos produtos. Mas tem gente investindo mais nisso. É o caso do ex-cozinheiro de Raul Castro. Ele abriu um negócio na Calle (Rua) 15, no 15º andar, com vista maravilhosa do pôr-do-sol no mar do Caribe. Cada prato custa em média 22 CUCs (caro!!!). Só tomamos mojitos (6,50 CUCs cada) lá... Apreciando a vista. Aliás, tomamos dois e pagamos mais dois para simpáticos cubanos que nos conduziram ao local.
Um negócio novo ao lado de um prédio abandonado.
Bem... Conhecemos os cubanos. Um casal simpático (pleonasmo, hehehe) de cubanos. Tem cubanos brabos também ou antipáticos, mas a maioria gosta de papear. A ida ao restaurante foi a partir de um encontro na rua. Falando em rua... não há criminalidade que assusta em Cuba como no Brasil (na ilha há 11.000.000 de habitantes, 100.000 policiais militares e 1.000 civis). Encontramos esse casal que disse que não iria cobrar pelas informações. Dois estudantes, o moço de medicina veterinária e a jovem acadêmica de História.
A relação com esse casal foi interessante. Realmente o local era lindo. E o Luis Felipe, bastante falante, nós confidenciou as contradições cubanas. Mostrou o local onde recebe sua ração mensal (que dura 12 dias) e das possibilidades de negócios privados. A ração é individual e mensal. É como uma cesta básica, mas apenas com feijão, arroz, café, óleo, ovos e pães. Segundo o jornalista dos EUA Patrick Symmes (2011):
CADERNETA: Cada família recebe uma caderneta de racionamento. As mercadorias são distribuídas numa série de mercearias (uma para laticínios e ovos, outra para "proteínas", outra para pão; a maior delas cuida dos enlatados e outros produtos embalados, de café e óleo a cigarros). Cada loja conta com um administrador que anota na caderneta a quantidade de produtos retirada pela família. Os vizinhos do meu amigo --marido, mulher e neto-- receberam a ração padronizada de produtos básicos, que consiste, por pessoa, em:
Dois quilos de açúcar refinado, meio quilo de açúcar bruto, meio quilo de grãos, um pedaço de peixe e três pães.
No final do encontro, no restaurante onde o casal nos levou. A moça sem jeito pediu, quando o jovem saiu, um pouco de dinheiro para ajudar o niño que estava para nascer... Não nos comovemos porque já havíamos passado por isso. É comum os cubanos pedirem: roupas, sapatos, produtos de higiene, etc. Mas não demos dinheiro pra ninguém.
Indiretamente sim, pois compramos charuto ilegalmente (de um cubano que atendia num bar). Ele inclusive nos levou para conhecer sua esposa em casa. Uma religiosa da santeria, que tem a função de mãe-de-santo do candomblé. A esposa de Carlos é filha de Obatalá. Só que a santeria é diferente do candomblé, tem bastante mistura com cristianismo e outras entidades. Além, é claro, dos orixás comuns no candomblé. No caso desse encontro o pedido de ajuda financeira foi feito pelo Carlos e esposa ficou constrangida. Também pagamos mojito (3 CUCs cada) pro Carlos na ida a sua casa. Faceiro até dançou.
Carlos, o cubano dançarino...
Agora vale uma interpretação. Os cubanos “se aproveitam” dos turistas quando esses querem conhecer o jeito socialista de viver. É destacada a falta de produtos, e eles conseguem nossa atenção falando disso. Mas Cuba não é só isso.
Cuba tem preocupação constante com educação. É a formação que libertará segundo o filósofo/escritor/apóstolo/mártir cubano José Martí. O congresso no qual participei mostrou que há muita investigação para melhorar o bom sistema educacional. Isso vai além da carência de tecnologia e necessidade de professores para atender a demanda das atuais escolas. O problema é principalmente atender os interesses da revolução e também dos jovens em conhecer e aproveitar o mundo capitalista/globalizado.
Falando em mundo, Havana, a pequena Cuba, como alguns se referem à capital, é um mundo. Conhecemos pouco da cidade: apenas uma parte do bairro Vedado (que era fechado aos pobres antes da revolução) e também um pouco do centro. Mas só isso dá conta de muitas coisas. Entre elas perceber o amor cubano pelos automóveis. Eu acho que não é só questão de conservar por não ter como comprar...
Dificuldades em conseguir bens de consumo
É claro que isso influencia muito. É perceptível a dificuldade em comprar bens de uso/consumo. Tem mais carros bem conservados do que casas. Até os hotéis ficam devendo em conservação. Mas o carinho com as latas velhas e algumas dessas muito bem conservadas mostra a intimidade dos cubanos com os automóveis.
O lado em que ouvi o remix de Ai se te pego


Andei 140 km num Lada do tempo da URSS, não muito conservado, mas com som de primeira (DVD) e um certo conforto. Também vi muitos carros novos. Muitos táxis oficiais novos (para atender turistas), mas também carros comuns com placa de Cuba de modelos novos, mas nenhum de fábrica dos EUA. Mas nada se compara a um Pontiac branco maravilhoso da década de 1950 e um rabo de peixe azul e branco da mesma época. Carros que causam inveja em qualquer proprietário de camaro amarelo. Isso para citar só dois exemplos.
Uma moto elétrica, e duas preciosidades cubanas...
Táxi lotação... acabou de sair dois e entrar um passageiro


O novo e o velho estão nas ruas...

Há poucas propagandas em Cuba. Ou melhor, apenas cartazes nos restaurantes. Anúncios de sorvetes, bebidas e cigarros. Não há outdoors nas ruas anunciando produtos. Só vi uma placa num bicicletaxi da Nestlé. Mas pela simplicidade pareceu brincadeira. Mas há muita publicidade da revolução, do socialismo, da liberdade e contra o bloqueio econômico norte-americano.

Os jovens chamam atenção em Cuba por parecerem brasileiros no comportamento. Ouvem muita música no celular, andam em grupos, se arrumam para sair. Além disso, vimos moças grávidas e muitas jovens com filhos... Mas falando de comportamento, a moda é influenciada pelo mundo globalizado. Mesmo com as dificuldades. Muito jovem com calça baixa, jeans, cabelos moicanos, muito gel, tênis estilosos, camisetas atuais... Os ídolos brasileiros são Neymar Jr. e Michel Teló. Ouvi até remix cubano de Ai se te pego...

Após tomar algumas cervejas produzidas na isla (Cristal e Bucanero, a segunda é Larger) e comer um pote de sorvete Nestlé. As cervejas eram 1,50 CUCs e o pote de uns 300 ml de sorvete 1,75 CUCs. Aliás, há coca-cola, sprite e fanta em Cuba, tudo produzido no México. Mas isso eu não tomei. Achei uma afronta ao Fidel e a memória del Che. Bem, após as cervejas... Muita música cubana... grupo Frase... Pedi um sucesso do Buena Vista Social Club e eles tocaram para mim: El cuarto de Tula/ le cogió candela/ Se quedó dormida y no apagó la vela.
Frase
Todo cubano ouve música... mas na praia não tinha zona de música alta... Mas perto dali tinha um cara que ouvia rumba o tempo todo. E os jovens modernizaram a música cubana. Turista não gosta, mas não existe só Orishas que faz misturas. Tem muitos outros, inclusive românticos. Desculpem-me os cubanos, mas há Rumba e Salsa universitárias.
Dentro da Escola Primária Martin Klein Schiller
Em frente a um local de organização da revolução que hoje é museu.
Mais sobre Cuba

O trânsito é engraçado...
Há malemolência cubana para atravessar a rua. Inclusive fora da faixa.
Leis de trânsito não são rígidas. É o que dá pra pensar ao ver caminhões carregados de gente na caçamba e motoqueiros só usando “coquinho”. Tudo isso em Havana nas regiões movimentadas em que passamos.


Cubanos fumam muito...
Impressionante mas pode fumar em restaurantes... No elevador... No saguão do hotel... Tinha só cartaz para não fumar dentro da piscina. É verdade!!! Vi poucos cubanos fumando charuto... mas cigarrillos, o tempo todo. Os cigarros são muito fortes. E fabricados em Cuba, com matéria prima brasileira, pela empresa BRASCUBA.


Memória da revolução...


Foi emocionante entrar na trincheira (Cueva Taganana) e ver onde soldados cubanos, apoiados pelos soviéticos, estavam a postos para enfrentar os EUA. Era um posto de defesa. E foi apresentado a nós por um cubano que era jovem e trabalhava no majestoso Hotel Nacional em 1962. Aliás, essa trincheira fica no jardim do hotel.

 


Ideologia e lazer...
Muita propaganda de valores socialistas. Ou para fundamentar o socialismo. O esporte não como competição, mas como agente humanizador e enobrecedor. As propagandas nos cinco canais oficiais de TV trazem isso. Falando em esporte, o que vimos do lazer dos cubanos foi:
  •  Assistir telenovela brasileira. Quando eu dizia que era brasileiro, a primeira coisa que a maioria dos cubanos comentava era sobre novela e futebol. Lá estava passando Terra Nostra pela manhã e Insensato Coração à noite. Além disso, o casal jovem nos confidenciou que estava vendo a versão pirateada da novela Avenida Brasil. Quando disse para uma cubana que eu era amigo do Antonio Fagundes ela quase teve um troço... Mas a Rho Gonçalves logo acabou com a brincadeira dizendo que era mentira.
  • Beisebol – assistimos pela TV à final do campeonato cubano.
  • Dançar e ouvir música;
  • Carros;
  • Cinema (muito barato).

Varadero
A praia mais linda que já fui. A água é leve. Até a Rho que não gosta de mergulhar virou peixe. Descobri onde o governo gasta dinheiro em Cuba: é para manter o mar quentinho próximo a praia e colocar água mineral para manter a transparência. Nadei e brinquei muito. O balneário é parecido com o que temos no Brasil. Muitas casas de veraneio. Muito comércio de artesanato. Passeios de cocotaxi, charrete, aluguel de motos e carros.

Trabalhandinho...
Tinham muitas...
Trata-se de lugar tranquilo. Nosso hotel ficava a uma quadra do mar mais azul que já vi. Havia muitos cubanos aproveitando o início das vacaciones de verão. Poucos turistas. Não há muito pesca. Vimos criação de galinha numa casa próxima a praia. Aliás, tudo é próximo a praia visto que Varadero é uma península de mais ou menos 1 km de largura no seu ponto mais largo.

Os famosos cocotáxis

Pensei que fosse Yemanjá
Simplesmente Varadero!

3 comentários:

  1. Oi Sandro e Rosângela
    ficou ótimo o seu relato... adorei. E já estou com saudade de Cuba. Adorei conhecê-los também...
    abração mineiro procês!
    Lucineia

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  2. Oi Sandro, quero muito conhecer Cuba, porém estou na dúvida quanto a data. Qual o melhor mês de baixa temporada? Obrigada

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    Respostas
    1. Oi Silvana
      O melhor período é julho. Apesar de ser verão lá é baixa temporada pq os europeus vão para lá aproveitar o calor apenas no inverno(que praticamente inexiste em Cuba).

      ok?
      Boa viagem.

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