Me. Sandro
Luis Fernandes[1]
Resumo
Essa
pesquisa abordará os usuários habituais do Passeio Público e a gentrificação da
região. A investigação iniciou com a Vinada Cultural[2]
promovida pela Gazeta do Povo (Grupo RPCCOM) e por um grupo de artistas locais.
Esses artistas motivaram a partir de fevereiro de 2013 a retomada cultural do
parque público central da cidade. A ocupação e a Vinada Cultural foram
vinculados a projetos da Prefeitura de Curitiba e da Fundação Cultural que têm
como objetivo aumentar a circulação de pessoas no centro da cidade com objetivo
de lazer[3], promover
a cultura e diminuir a criminalidade. Uma questão que preocupa o andamento
dessas ações está relacionada ao processo de gentrificação que não considerou
os usuários habituais como agentes sociais que promovem cultura e ocupam a
região. Apesar da diversidade de agências envolvidas no processo, entre outras,
Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) e empresários da região,
algumas tem mais ação e dirigem a pauta das transformações do espaço. Nesse
sentido a voz dos usuários do parque foi ouvida para entender como se faz a
ocupação desse espaço.
1.
Introdução
(...) Eu gosto de Cu... ritiba (eu gosto!)
Eu quero ir fundo, no meio do mundo
Aqui é o lugar
Passar pela praça do homem pelado
O Passeio Público fica ali do lado
De onde se vê as coisas mais claras
Dando pipoca às capivaras
(...)
Canção
de Carlos Careqa, Adriano Sátiro e Oswaldo Rios, 1993
LP: Os homens são todos iguais.
Essa canção foi
meu cartão de recepção da cidade de Curitiba. Sou “curitibano” há 20 anos[4]. E
quando cheguei aqui o Passeio Público (P.P.) era um dos lugares que
frequentava. Não há mais capivaras no Passeio[5] e
tampouco podemos alimentar os animais, mas sem dúvida é um bom lugar para ter ideias mais claras.
Figura
1 - Gazeta do
Povo, 16/05/2010
|
Na
parte da Av. João Gualberto há construção de um edifício de grande porte.
Também é visível, desse ponto do parque central, o crescimento do shopping Mueller
nos últimos anos. Na Pres. Faria apenas um edifício e pontos comerciais que não
fixam empresas há algum tempo e também os fundos do Colégio Estadual
Tiradentes. Na Pres. Carlos Cavalcanti um Edifício novo (Tour Garden) chama a
atenção com apartamentos a venda, uma casa antiga demolida para estacionamento
e mais dois prédios (Portal do Passeio e Edifício Passeio), também se destacam
pela referência ao nome. E outro edifício relativamente novo é fruto da nova
especulação: Elias Waquin. Ainda na Carlos Cavalcanti tem a Casa do Estudante
Luterano Universitário, e algumas edificações de pequeno porte. Na Rua Luiz
Leão o entorno é dividido entre o clube Círculo Militar e o Colégio Estadual do
Paraná (CEP). Há uma pequena parte do P.P. que é separada pela Av. João
Gualberto onde está localizado o Memorial Árabe.
Foram
seis sábados em que observei o Passeio. Fiz pouca participação, pois
privilegiei observar os usuários profissionais do local. Todos os sábados de
investigação foram de inverno agradável de Curitiba e isso significa que
escolhi dias sem chuva, com sol e frio. Isso possibilitou comparar os sábados
sem grandes interferências climáticas. O dia da Vinada foi inspirador quando ao
tempo.
Sábado de sol com “céu de brigadeiro” e
sem calor. Clima típico curitibano de inverno para passear. Fui ao Passeio
Público. Local que às vezes vou comer feijoada ao sábado ou simplesmente cortar
caminho por um local agradável. Estava com minha esposa, Rosangela Gonçalves de
Oliveira[6]. (Caderno de Campo,
27/04/2013)
À
medida que fui dando atenção a detalhes do P.P. e prestando mais atenção ao
entorno lugares foram se destacando e chamando atenção do olhar. E nesse
sentido vi a necessidade da descrição ficar mais densa. Ao mesmo tempo, notei
que seria necessária maior participação para entender o sistema cultural do
local, por isso retornei ao local e procurei realizar mais contato com os profissionais
que exercem atividades no local.
Desde
as primeiras observações eu vinha procurando entender o sistema cultural do parque
central. Segundo Geertz (2012), é fundamental entender o sistema cultural de um
local com base na interpretação e nos significados desenvolvidos pelos atores
sociais observados. Com conversas aleatórias no dia 04/05/2013, uma semana após
o Evento da Vinada Cultural, procurei entender o impacto da Vinada no cotidiano
dos profissionais (usuários):
Conversei
com a vendedora de produtos orgânicos que me disse que sua clientela aumentou
muito na semana anterior. A vendedora de pipoca ainda estava empolgada com o
movimento surpreendente da Vinada, bem como o vendedor de uma barraquinha de bebidas. E os garçons do restaurante
assustados com a grande circulação de uma semana atrás que esperavam ver
repetir.
Fui observar a final da corrida de pedalinhos iniciada na
Vinada. Tinha público, mas bem menor do que a semana passada. Alguns
depoimentos de trabalhadores do passeio apontam para um movimento superior ao
dos sábados antes da Vinada. Outros dizem que tudo voltou ao normal.
Apesar de não estar com o movimento surpreendente do sábado
anterior havia movimento. Portanto o Passeio continua ocupado.
A empolgação foi e ainda é grande com o sucesso do evento. O
vendedor de bebidas disse ter sido avisado e não esperava tanto movimento:
aproximadamente 20.000 pessoas na Vinada. Esse vendedor foi procurar
informações sobre novo evento, mas só deve ocorrer no fim do ano. Tinha uma
ponta de tristeza na notícia.
Um destaque desse sábado “normal” é que os frequentadores e
profissionais do passeio público ficaram mais visíveis: prostitutas, usuários
de drogas, famílias fotografando, atletas, consumidores de alimentos orgânicos,
família com crianças, casais... Algumas pessoas fotografando. (Caderno de Campo, 04/05/2013)
Comecei
a entender os usos dos passeios pelas pessoas que trabalham e circulam
habitualmente por lá. A feira de orgânicos, por exemplo, foi crescendo como
objeto de observação em relação à sua importância no sábado. No dia 01/06/2013
dei mais destaque ao cotidiano dos consumidores e compradores da Feira:
Dei
uma volta de moto ao redor do local. Ao contornar o passeio verifiquei que
havia um bom movimento. Considerando que era meio do feriado de Corpus Christi.
Figura 2 - Feira de orgânicos na pista de "fora"
|
O movimento na compra de produtos orgânicos chama a atenção.
Movimento grande de pessoas com carrinhos para compras, bem como sacolas
retornáveis, mas também grande uso de sacolas plásticas com logomarca da
própria feira. Pensaria em contradição ou apenas compras sem pretensões
políticas.
Considerando a feira, que ocupa pequena parte lateral do
Passeio. Aproximadamente uns 50 metros da passarela na esquina das Ruas
Presidente Faria e Carlos Cavalcanti. Ela não ocupa internamente. Desde 1993,
quando começou no Passeio com 08 barracas, a feira atrai pessoas que não são
necessariamente frequentadores do Passeio, mas consumidores de produtos
orgânicos. Nesse momento cabe uma questão fundamental: qual o dia de maior
movimento semanal do Passeio? Pergunta a ser feita aos pipoqueiros.
Ainda sobre o local dos orgânicos: foi só nesse dia que
percebi que havia barracas de artesanato na mesma via do passeio em que se
encontra a Feira de Produtos Orgânicos. Estão separadas por um espaço de uns 20
metros. São também padronizadas, com armação de metal e cobertura branca. Mesmo
modelo utilizado na Feira do Largo. São dispostas uma ao lado da outra sem
espaços. Enquanto que na feira de orgânicos tem dois ou três atendentes na
barraca, na de produtos artesanais apenas uma pessoa por barraca. São 10
barracas[7]. A feira de artesanatos está ali há 4 anos.
Os frequentadores desse hábito eram alguns poucos ciclistas
de passagem, também poucos corredores. Alguns fazendo exercícios leves:
caminhada ou exercícios nos aparelhos de ginástica ao ar livre. Alguns
fotógrafos de aves. Casais de namorando passeando lentamente e também
fotografando. Moradores de rua, pedestres cortando caminho, crianças brincando
com os pais no parque e algumas prostitutas. No mesmo local dos últimos sábados
“os bêbados ou drogados”.
O Passeio de muita calma nessa manhã de sábado. O local
continua ocupado. Seus frequentadores habituais. Compradores de orgânico,
homens jogando baralho, poucas mesas ocupadas no restaurante (cedo para a
feijoada), dois pedalinhos sendo usados por “turistas”, mais fotos na ponta de
pedra, na frente dos pássaros e comedores de pipoca. Saí do local às 11h. (Caderno de Campo,
01/06/2013)
Uma
feirante, em entrevista no dia 06/07/2013, chamou minha atenção pela qualidade
da análise em relação à ideia de ocupação pelas agências que interferem no P.P.
e na região. Ela disse que os organizadores do evento poderiam ter levado em
conta esse viés sustentável do sábado no Passeio, que é a feira, para
desenvolver uma atividade com mais raiz para caracterizar o Passeio como local
de sustentabilidade ou ecológico. Nesse sentido, do jeito que foi organizado, o
evento ficou deslocado do sistema cultural do local.
Ao
procurar entender o sistema cultural do Passeio tornou-se importante identificar
os usuários de sábado do Passeio Público de Curitiba e o sábado foi escolhido
por ser o dia do evento que desencadeou essa investigação: a Vinada Cultural. Essa
atividade consistiu em venda de cachorros-quentes por barracas tradicionais de
várias regiões da grande Curitiba no dia 27/04/2013. O objetivo era chamar a
atenção do público para o P.P., bem como ocupar o lugar com atividades
culturais e com um público não acostumado a frequentá-lo. É importante destacar
que o nome do evento se refere ao principal ingrediente do cachorro-quente que
é a vina (salsicha) e também a outro evento, anual, a Virada Cultural.
Tratava-se
de saudosismo da época de uso do P.P. por grande número de curitibanos que
buscavam lazer[8].
Esse olhar saudosista foi conduzido por algumas agências da cidade: amigos do
P.P. (grupo de artistas locais que marcam encontros aos sábados no parque
central de Curitiba para retomada do local pelos artistas - isso ocorre desde
fevereiro de 2013. O grupo mantém página na rede social Facebook: O passeio público é nosso!); Prefeitura e Fundação
Cultural de Curitiba; e Jornal Gazeta do Povo do GRPCCOM.
Curioso
a respeito do evento fui ver a Vinada Cultural. E foi no evento que pensei no
problema a investigar: quem são os usuários do P.P.? Por que eles não são
considerados ou declarados, pelos agentes citados, como ocupantes do parque?
Sou
usuário do parque, além de às vezes cortar caminho pelo logradouro, pois
trabalho perto dali, também passeio lá. O P.P. me atrai pela possibilidade de
observar e fotografar aves livres que aparecem por lá. E também para comer
feijoada aos sábados no Restaurante do Passeio.
Em
cinco sábados, além do dia da Vinada, fiz posteriores observação do parque. Não
ocorreu pesquisa sistematizada dos usuários antes disso. A estratégia de
investigação, já descrita parcialmente, foi a observação participante.
As
categorias dos frequentadores do P.P. são os seguintes: atletas[9] (ciclistas,
corredores, praticantes de caminhada e ginástica), profissionais[10]
(garçons, pipoqueiros, vendedores de bebidas, fotógrafos, prostitutas[11],
atendente do pedalinho, policiais, feirantes e cuidadores dos animais.),
jogadores de dama, dominó e baralho, bem como visitantes e clientes de serviços
do local: casais, consumidores de produtos orgânicos[12], famílias[13],
clientes do restaurante e estudantes[14].
Com
base em entrevistas o objetivo foi conseguir entender como eles estão
vinculados ao parque. Além disso, compreender suas ideias sobre a Vinada
Cultural, bem como a relevância do evento para o cotidiano dos usuários e do
P.P. Principalmente se houve impacto no P.P. após o evento. Nesse sentido é importante
frisar que foi a rotina de um dia da semana o objeto da pesquisa.
E
pensar nesse problema leva a reflexões sobre a gentrificação urbana. Ou seja,
como as agências oficiais do estado e a imprensa estimulam a requalificação
urbana dos centros das cidades. Alves (2011) discutiu esse problema destacando
pontos relativos ao processo na cidade de São Paulo. A reflexão teórica a
respeito desse processo problematiza os benefícios da gentrificação. Tal
discussão foi consenso enquanto avanço social e planejamento urbano, mas
atualmente alguns autores, Alves e Wacquant, por exemplo, discutem seus efeitos
contraditórios.
Esse
processo ocorre em São Paulo, por exemplo, desde os anos 1980 (Alves, 2011). E
em Curitiba, desde 1970 (Souza, 2001 e Oliveira, 2000). Decorrente do
planejamento da cidade e refletindo sobre novos espaços de sociabilização, empresários
e Prefeitura local voltaram seu olhar para a gentrificação do centro para
conseguir melhorar as condições de circulação, lazer e comércio.
O
ocorrido na capital paulista tem similaridades ao ocorrido na capital
paranaense. Em relação ao centro de Curitiba diversas ações corroboram com a do
P.P. Iniciativas como a instalação de câmeras de segurança monitoradas pela
Polícia Militar; pintura dos prédios históricos da Praça Generoso Marques em
convênio com a empresa de Tintas Coral; revitalização do Paço da Liberdade pelo
SESC; readequação das Ruas Riachuelo e São Francisco pela Prefeitura; além
disso, os projetos culturais do Cine Passeio, Cine Luz, Virada Cultural e
Corrente Cultural, todos capitaneados pela Fundação Cultural[15]
O
P.P. ganhou destaque nesse processo devido ao seu “abandono” pelos grupos
sociais que o criaram (BAHLS, 1998) e também pelos ex-usuários saudosos, que o
freqüentaram para andar de pedalinhos, comer feijoada Lá no Pasquale e assistir espetáculos artísticos no palco
flutuante. Esses eventos nos idos de 1970 até meados dos anos 1990.
2.
Gentrificação
urbana e o Passeio Público de Curitiba
Os estudos sobre
gentrificação urbana atuais estão revendo os processos de revitalização ou
requalificação de zonas das grandes cidades. No Brasil com destaque para São
Paulo, desde o governo de Jânio Quadros (gestão 1986 – 1989), houve
principalmente em relação ao centro da cidade tentativas de acabar com a
criminalidade/violência e tornar o lugar vinculado à produção cultural
paulistana (ALVES, 2011). Essa pesquisadora argumenta que o processo de
gentrificação não tem alcançado o objetivo pretendido e ainda exclui cidadãos
habituais usuários dos equipamentos públicos que recebem intervenção.
O estudo dessa autora
aponta para contrastes nessa requalificação. Destacando a região central de São
Paulo a autora remete à gentrificação promovida pelo estado e iniciativa
privada estar mais preocupada com a valorização imobiliária do espaço. A autora
apresenta estudos sobre como o processo de valorização dos imóveis inflacionou
os preços no centro de São Paulo nos anos de 1950 e 1960 criando novas
oportunidades em regiões mais periféricas. Isso gerou em médio prazo
desvalorização dos imóveis centrais:
“Como se trata de um processo, as áreas ditas decadentes
e deterioradas só contêm esses adjetivos porque outrora foram justamente o seu
oposto: representavam o auge, a modernização, a pulsão da cidade.” (ALVES,
2011).
Esse processo é
comum a muitas cidades, claro que por motivos diferentes. No Brasil destaque
para Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Curitiba. Bem como Londres e Nova
Iorque. Curitiba, por sua vez, teve mudanças significativas no centro que são
em menor proporção similares a São Paulo. O caso do Passeio Público que será
analisado amiúde passou, segundo as agências intervencionistas, de lugar de
encontro privilegiado de parte da sociedade curitibana até os anos 1990 para
local de prostituição e de poucos frequentadores dos seus equipamentos urbanos.
Na época de maior movimento havia parque de diversão do outro lado da Av. João
Gualberto[16],
Cine Morgenau[17]
em frente, shows de grande porte no vizinho Palácio de Cristal do Círculo
Militar[18],
bem como apresentações artísticas no P.P. (coreto e depois palco flutuante) e no
Teatro Guaíra que fica a duas quadras do P.P. O Passeio Público foi ao poucos
sofrendo mudança de público Por diversos motivos. Por exemplo, a falta de
estacionamento ao seu redor, mudança do zoológico para o bairro Boqueirão[19],
retirada do parque de diversões e criação do Shopping Mueller[20].
Além disso, o cresimento imobiliário na região é grande. Em frente ao colégio
estadual. Ao lado do P.P. tem cinco edifícios, dois construídos nos últimos 10
anos, construídos para consumo da classe média alta.
Na tentativa de
gentrificação pela prefeitura e agentes imobiliários de Curitiba há similaridade
com o ocorrido em São Paulo. A revalorização do centro de Curitiba em busca de
novos investimentos pelas incorporadoras imobiliárias lembra o que aconteceu em
São Paulo, mas tem uma diferença significativa: enquanto lá ocorre o incremento
cultural aqui ocorrem investimentos culturais e também a valorização do espaço
central para construção de novos edifícios de residências e conjuntos
comerciais:
“Em um primeiro momento (anos 1980), os
documentos oficiais apontavam para a necessidade de "revitalização"
da área central. Revitalizar implicava buscar uma nova vida para o centro, como
se a existente não fosse desejável. O que se procurava era, nos discursos
oficiais, atrair novamente as classes mais abastadas que haviam se afastado da
área central. Se não fosse possível pela moradia, que voltassem pela cultura,
pelo patrimônio cultural existente, mas para isso muitas mudanças estruturais
deveriam ser feitas de modo a atrair investimentos (tanto nacionais como
internacionais, privados e/ou públicos).” (ALVES, 2011)
Isso aponta para
um conflito de interesses e desconsideração dos atores sociais que atualmente
frequentam o parque central de Curitiba. Os agentes, prefeitura e empresários,
se não conseguem convencer pelo maior valorização imobiliária procuram o apelo
de renovação cultural. Esse processo é destaque em Curitiba pelas ações já
citadas de revitalização de áreas próximas ao Passeio (ruas, eventos e
edificações). Portanto, envolver cultura, cidade e empresa é a base da
transformação dos espaços centrais que deixam invisíveis os atores sociais que
frequentam o P.P.
Wacquant (2010)
explicita a invisibilidade do proletariado urbano, que atualmente não é necessariamente
oriundo do emprego na indústria. Esse novo trabalhador foi para o centro em
busca de outros tipos de ocupação, opções de lazer e vida mais barata. Segundo
esse autor esse sujeito não é visto nem pelos pesquisadores que acham a
gentrificação uma boa alternativa de revitalização de espaços das cidades. O
trabalho desproletarizado e em empregos informais, inclusive no centro da
cidade, não é percebido pelos agentes e pesquisadores:
“Essa obliteração literal e figurada do
proletariado na cidade é reforçada pela heteronomia crescente da pesquisa
urbana, na medida em que ela se torna mais estreitamente ligada aos interesses
e perspectivas dos governantes da cidade, e correspondentemente desligada das
agendas teóricas autodefinidas e autopropelidas. E, por sua vez, ambas as
tendências revelam, confirmam e incitam o papel
em transformação do Estado, de provedor de assistência social para
populações de renda mais baixa a fornecedor de serviços e amenidades
empresariais para urbanitas de classe média e alta principalmente (...)”
(WACQUANT, 2010)
O estado passa de
agente criador de assistência para regulador de espaços sociais nas cidades com
objetivo de ocupação e consumo capitalistas. Segundo Wacquant, a presença e a
discussão da ocupação requalificada passa pela ideia de minorias, criminalidade
e segregação, mas não considera o conflito de classes na ocupação dos espaços
urbanos centrais.
Os autores apontam
para interesses conflitantes do capital com a organização de alguns pontos das
grandes cidades. Há discursos de agentes que apontam para a reformulação do
Passeio, mas tratam as mudanças como invisíveis e não consideram como agentes
os usuários do P.P. O capital da especulação imobiliária que vai ganhando
destaque nos últimos 20 anos, desde a mudança dos animais do Zoo até a venda de
terrenos no entorno para construção de grandes edifícios. Passando por modificações
urbanísticas que não consideraram peculiaridades do parque[21].
3.
Vinada
cultural: agência de destaque
A
Vinada foi um evento que envolveu agências interessadas na ocupação do Passeio.
Essa ocupação foi destacada inclusive pelo prefeito da cidade em seu discurso.
Chefes de cozinha, capitaneados por artistas locais, deram destaque aos
cachorros quentes tradicionais curitibanos. O destaque desse evento foi a
Gazeta do Povo e a RPC TV, ambas vinculadas ao GRUPO RPCCOM. Teve transmissão
ao vivo para todo o Paraná de flashs do evento. Bem como anúncios e banners
destacando a presença desses veículos de comunicação. A campanha da Gazeta que
tinha começado antes do evento, também continuou após o mesmo:
Gazeta
do Povo – Resumo das matérias sobre o Passeio Público
Autor
|
Data
|
Título
|
Comentário
|
|
1.
|
Sandro
Moser
|
02/09/2012
|
Lugares que amamos
|
|
2.
|
Luiz
Claudio de Oliveira
|
20/02/2013
|
Quadra Cultural e
Passeio Público – as polêmicas de Curitiba
|
|
3.
|
Cristiano
Castilho
|
24/02/2013
|
No coração da cidade, mas longe dos olhos
|
Início
da campanha OCUPE O PASSEIO
|
4.
|
Cid
Destefani
|
24/02/2013
|
Para ressurgir do limbo
|
|
5.
|
GAzeta do povo – on-line
|
OCUPE O PASSEIO
|
Campanha
de atrações
|
|
6.
|
Osny
Tavares
|
26/02/2013
|
Mobilização
pró-Passeio chega a órgãos públicos
|
|
7.
|
GAZETA
DO POVO
|
27/02/2013
|
Audiência pública discute ocupação do Passeio
Público
|
|
8.
|
Fernanda
Trisotto
|
28/02/2013
|
Grupo debate ações públicas para o Passeio
|
|
9.
|
Fernanda
Trisotto
|
02/03/2013
|
Evento no Passeio oferece jogos e teatro às
crianças
|
|
10.
|
Pollianna
Milan
|
02/03/2013
|
O parque da magia
|
|
11.
|
Pedro Brodbeck
|
02/03/2013
|
Atividades para as crianças movimentam o Passeio
Público neste sábado
|
|
12.
|
Raphael Marchiori
|
15/03/2013
|
O que é que o Passeio
Público tem?
|
Mapa com
atrações do passeio e destaque em fotos.
|
13
|
Cristiano
Castilho
|
25/03/2013
|
Por um Passeio Público
do futuro
|
Professor
UTFPR – ilustração de dois projetos para o passeio
|
14.
|
Cristiano
Castilho
|
10/04/2013
|
Pássaros fazem ponte aérea com escala no Passeio Público
|
|
15.
|
Gilson
Garrett Jr.
|
21/04/2013
|
Um parque e muitas vinas
|
Início da campanha da VINADA
CULTURAL
|
16.
|
Cristiano
Castilho
|
24/04/2013
|
Marinheiro de primeira viagem
|
|
17.
|
Gilson
Garrett Jr.
|
26/04/2013
|
Vinas saboreadas com música e arte
|
|
18.
|
Gilson
Garrett Jr.
|
27/04/2013
|
Hoje é dia dos dogueiros no Passeio Público
|
Dia da VINADA CULTURA.
|
19.
|
Marina
Fabri
|
28/04/2013
|
Vinada Cultural coloca o Passeio Público
novamente no roteiro dos curitibanos
|
|
20.
|
Da
Redação
|
02/05/2013
|
Passeio Público chega aos 127 anos com
revitalização
|
|
21.
|
Raphael
Marchiori
|
07/05/2013
|
Passeio é popular, mas pouco visitado[22]
|
Infográfico
do Instituto PARANÁ PESQUISAS.
|
22.
|
Adriana
Czelusniak
|
13/05/2013
|
A dois passos do Passeio Público
|
|
23.
|
Cristiano
Castilho
|
14/05/2013
|
Novas ideias para um outro Passeio
|
Professor
da UTFPR projeto de alunos para intervenção no passeio.
|
24.
|
Felippe
Anibal
|
22/05/2013
|
Chegar de carro
no Passeio é dor de cabeça na certa
|
Alternativas
de mobilidade – ônibus e bicicleta.
|
25.
|
Cid
Destefani
|
26/05/2013
|
Há mais de cem anos...
|
Descaso
com monumentos públicos. Inclusive do Passeio.
|
26.
|
Alexandre
Costa Nascimento
|
07/07/2013
|
Projeto
é ousado, mas está parado.
|
Ippuc quer transformar o Passeio Público em um mini-Central Park
curitibano.
|
De
2008 a 2012 as matérias desse jornal faziam referência à questão imobiliária do
entrono do P.P., bem como à necessidade de limpeza dos lagos artificiais[23].
Inclusive há citação de um projeto de restauração, dos lagos e das gaiolas dos
animais. Mas esse ano a pauta sobre o Passeio mudou. O jornalista mais
envolvido com a temática foi Cristiano Castilho, pois foi o ponto focal do projeto dentro da redação/jornalismo.
Ele assinou cinco matérias publicadas na Gazeta do Povo. Além disso, das 26
reportagens apresentadas, a maioria destaca o papel histórico do P.P. bem como
a necessidade de requalificação do mesmo. O jornal até o momento da escrita
desse artigo está realizando campanha institucional intitulada OCUPE O PASSEIO.
Em
conversa com o jornalista à frente da campanha, ele afirmou que o Passeio é um
preocupação recorrente do jornal. E o jornal promoveu a Vinada com intenção de
provocar mudanças no Passeio. Inclusive a pesquisa publicada no jornal no dia
07/05/2013 será refeita até o fim do ano para efeito de comparação, bem como
tentar verificar os efeitos da campanha do jornal no local. Segundo a pesquisa
o maior problema no local é a falta de segurança[24],
apesar de não haver registro de ocorrências policiais no local. Isso denota que
há incoerência ou dificuldade de compreensão do espaço por parte dos
curitibanos, inclusive preconceito.
O
jornalista, que fez muitas visitas e entrevistas no P.P., apresentou uma ideia
interessante para pensar os problemas do parque: “Há o passeio de dentro e o
passeio de fora.” O passeio de fora é o local que há maior circulação de
pessoas, inclusive onde os moradores da região fazer atividades físicas, local
da ciclovia e da Feira de Orgânicos. E o passeio de dentro é o local esquecido
por boa parte da população curitibana. Para a maioria que conhece o local,
segundo Castilho, o passeio é um local de passagem e raramente destino final.
4.
Usuários
do Passeio Público independentes da Vinada
Tratei como usuário os trabalhadores do parque. Não
entrevistei os frequentadores, assíduos ou não. Observei os frequentadores e
conversei com alguns profissionais que desempenham sua função dentro do parque.
Há no discurso da maioria, com exceção dos comerciantes da
feira de orgânicos, saudades da época de maior frequência ao P.P.: “O passeio já foi melhor!”. E “Mais famílias freqüentavam.[25]”. São duas afirmações
recorrentes.
Não foi realizado estudos com os usuários do parque para
produção da Vinada. Foram avisados, mas não ajudaram na produção. Também não
foi dada devolutiva, tampouco marcada nova atividade cultural no local. Após a
promoção da Vinada a Gazeta do Povo fez vários artigos promovendo ou
problematizando o P.P. e isso tem provocado debates, mas nenhuma ação efetiva.
Os vizinhos ao parque demonstram interesse, mas, os únicos que fazem
intervenção são os empresários que tem interesse em incrementar movimento ou
especulação imobiliária e os estudantes da Casa do Estudante Luterano
Universitário (CELU). Trata-se do grupo organizado de alguns estudantes
moradores da CELU que realizam há 30 anos A Hora do Recreio[26].
Além dessas movimentações que procuram interferir sistematicamente
no local, apenas a organização dos feirantes pode ser comparada. Apesar de que,
nesse último caso, a organização busca melhoria visando principalmente à feira.
E pelo discurso das pessoas não há união dos diversos interessados no parque.
Minha última visita ao P.P. ocorreu dia 06/07/2012. Nesse dia
defini que conversaria apenas com alguns profissionais para delimitar um mapa
desses usuários.
A minha abordagem foi com os profissionais presentes no
sábado pela manhã. Os feirantes, por exemplo, chegam às 4 horas da manhã e
preparam a feira para receber os consumidores às 7 horas. Os pipoqueiros às 10h
começaram a instalar seus carrinhos. O policial militar do módulo chegou de
madrugada. Dos quiosques (três no total) só tinha um aberto. Tinham três garis
limpando. Algumas prostitutas no interior do parque.
Nesse momento defini minha abordagem: perguntas diferentes
para usuários diferentes. Na pista externa do passeio defronte a Rua Carlos
Cavalcanti está o módulo policial. O cabo que trabalha ali faz muito tempo[27] disse que acha que a Vinada promoveu mais movimento. Ele
mesmo após a Vinada levou seus sobrinhos ao P.P. e eles querem voltar. Os dias
mais movimentados são os sábados, domingos e feriados. Segundo o cabo: “Quando
tem movimento de pessoas de bem no parque não tem gente ruim.” A feira ajuda
muito nisso segundo esse servidor público. Esse profissional disse que não há criminalidade
no parque. Às vezes no entorno, mas dentro do P.P. não. A guarda municipal
também faz ronda no local. As prostitutas e os mendigos atrapalham o movimento
de famílias, mas eles apenas incomodam e não cometem crimes, segundo o P.M.
Depois disso, conversei com um pipoqueiro que trabalha no
parque há 30 anos. Disse que o maior movimento é no domingo. E disse que há
melhor movimento depois da Vinada. E disse que nunca vendeu tanta pipoca num
dia só quanto na Vinada. Atualmente o melhor ponto de venda de pipoca é próximo
ao parquinho infantil. Antigamente era perto da ponte entre as Ilhas das Garças
e da Ilusão, onde ocorreu a entrevista.
Conversei também com um ex-lambe-lambe. Trabalha há 51 anos
no P.P. começou aos 16 anos com seu pai. Herdou o local mas encerrou as atividades
de fotografia em 1995. Seu quiosque em
frente fica ao terrário e atualmente vende refrigerantes, sucos e sorvetes.
Segundo esse vendedor o movimento caiu nos últimos três ou quatro anos devido
aos pedintes[28] que incomodam as famílias. Antes as famílias dos edifícios
ao redor vinham passear no parque. Esse comerciante ainda disse que o movimento
é maior no fim de semana.
Finalmente um dos garis[29] declarou que o parque tem pontos em que as pessoas sujam
mais. Inclusive fazendo necessidades fisiológicas em lugares inadequados. E
afirmou que o movimento maior é nos fins de semana.
Nesse dia ainda observei algumas crianças no parquinho, um
patinador na pista ao lado do parquinho, algumas pessoas olhando os animais em
cativeiro, casais fotografando, atletas se exercitando no “estica-véio”[30] e na pista de caminhada/corrida, ciclistas indo a feira, ou
passando pela ciclovia, além dos consumidores das feiras de orgânico e
artesanato.
Fui embora às 10h30. Passei ao redor do parque às 15h40 e
tinha movimento maior no parquinho infantil. Bem como as mesas que estavam
vazias pela manhã, onde acontecem jogos de cartas, dominó e damas, estavam
lotadas de homens nesse horário. O Restaurante estava com as mesas externas
ocupadas e as feiras tinham acabado.
A observação foi encerrada nesse dia. Mas a etnografia pode
ser mais aprofundada. Para aproximar de usuários e frequentadores deve haver
maior participação do cotidiano do P.P. Uma possibilidade seria realizar
atividades mais regulares, de compra, exercícios físicos ou apenas passeio em
outros dias da semana. (Caderno de Campo, 06/07/2013)
Mapa dos usuários do Parque:
|
Figura 3 - Gazeta do Povo,
15/03/2013
1.
Portal
2.
Viveiros
3.
Viveiros
4.
Pistas de caminhada
5.
Módulo da Polícia Militar
6.
Pedalinhos
7.
Recreio do Garoto (atual Restaurante do Passeio)
8.
Aquário
9.
Terrário
10.
Bicicletário
11.
Cerca que contorna o parque (de cimento imitando troncos)
12.
Busto de Emiliano Perneta
13.
Busto de Francisco Fontana
14.
Ilhas (dos Macacos, das Garças, dos Amores e da Ilusão)
15.
Parquinho
16.
Carvalho
17.
Palco flutuante
18.
Ponte Pênsil
19.
Cascata
20.
Academia ao ar livre
A.
No caminho entre as ilhas dos Macacos, da Ilusão e das Garças
há alguns bancos que são usados por prostitutas. Essas profissionais também
usam alguns bancos entre o viveiro (3) e o restaurante (7). Também trabalham do
lado de fora do P.P. na Rua Carlos Cavalcanti.
B.
Os mendigos (sem-teto) usuário de drogas ficam próximos ao
terrário. Na parte interna do parque atrás da Ilha dos Amores.
C.
Há doze pipoqueiros no parque que fazem rodízio entre doze
pontos diferentes.
5. Considerações
“A prostituta, o
traficante e o morador de rua ainda estão ali. Basta dar uma volta pelo Passeio
Público, no Centro de Curitiba, para perceber que, mesmo após o movimento que
propôs iniciativas para revitalizar o parque mais antigo da cidade, o espaço
continua sendo ocupado pelos mesmos frequentadores. Passados seis meses e
algumas reuniões, audiências públicas e eventos esporádicos, pouco aconteceu
para mudar o cenário.” (Alexandre Costa Nascimento. Gazeta do Povo,
07/07/2013)
A intenção inicial
ao observar a Vinada era ver o passeio público com uma atividade diferente e
artística. Como a abordagem foi etnográfica eu estava aberto para surpresas que
a investigação poderia apresentar. E isso ocorreu. O P.P. é um local de
múltiplos interesses e de muitas possibilidades de abordagem. E concordo com o
jornalista CASTILHO quando questiona se é necessário mudar o Passeio. O mesmo
também tem dúvidas sobre a campanha OCUPE O PASSEIO. Será que não seria melhor
USE O PASSEIO ou VISITE O PASSEIO?
Diante das
demandas sociais provocadas por diversas agências é necessário refletir sobre o
mesmo, e quanto mais olhares se dirigirem ao P.P. mais pluralidade estará
presente na reflexão sobre esse espaço público. E consequentemente isso pode
gerar sentimento de pertencimento, o que mudaria para melhor a relação das
pessoas que não vão ao local por preconceito ou desconhecimento.
O olhar inicial
dessa pesquisa era sobre a Vinada Cultural promovida pelo jornal Gazeta do
Povo. No dia do evento outra coisa chamou a atenção. O espaço artístico não
atraiu as pessoas, pois foram os cachorros-quentes que atraíram a população[31].
As atividades dessa característica, música, stand-up e teatro, por exemplo,
além de não ter espaço próprio na estrutura do P.P. tiveram pouco investimento
de suporte para o evento.
Finalmente depois
de circular pelo P.P. e arredores chamaram a atenção os novos prédios sendo
construídos na região. Foi isso que ampliou a problemática relacionando-a ao
ocorrido já há algum tempo na região. O que é chamada de revitalização pelas
agências ou gentrificação. Além disso, há formas de tratamento diferentes pelos
usuários do Passeio de dentro e do Passeio de fora (CASTILHO).
Figura 4 - Investimento
imobiliários
Em
frente ao P.P. na Rua Carlos Cavalcanti.
O
velho (apenas fachada não demolida) próximo ao novo (Tour Garden)
Figura 5 - Investimentos
imobiliários
A
resistência ao avanço imobiliário: livraria evangélica, lanchonete e Costelão
do Passeio.
E
no local onde está sendo construído o edifício funcionava o Parque Alvorada e o
Cine Morgenau.
O processo de
gentrificação da região envolve agências com objetivos semelhantes. O discurso
geral tem como objetivo a requalificação do centro, seja por meio da promoção
cultural, diminuição da criminalidade ou revalorização imobiliária. Portanto
esse discurso aproxima as agências, pois trata da revitalização do centro.
Nesse sentido podemos
falar do uso de uma agência por outra. Ou seja, o discurso em segundo plano não
é semelhante. A especulação imobiliária e o shopping Mueller, por exemplo, se
mostraram interessadas no comércio. Na Vinada, com anúncios e promoções, essas
agências demonstraram seu interesse na gentrificação da região destacando a
divisão de classes e interessadas na venda de seus produtos. Como não há
organização entre os diversos usuários profissionais do parque. Cada um trata o
seu problema sem relações de organização coletiva. A atuação de agências
externas ao P.P. tem mais facilidade de atuação devido à falta de engajamento
em relação aos problemas comuns. Os profissionais foram apenas avisados que
ocorreria a Vinada e não consultados sobre possibilidades ou alternativas.
O evento, Vinada
Cultural, teve destaque na mídia, inclusive internet, que além das mídias
mobilizou muitas pessoas pelas redes sociais. Mas uma questão não foi abordada
sistematicamente pela mídia: o fato da ocupação do parque acontecer a muito
tempo. Até o prefeito Gustavo Fruet declarou após um lançamento de livro
ocorrido no dia da Vinada: “A Vinada era uma boa invasão do Passeio.”
Os discursos, as
práticas sociais inseridas nos sistemas culturais precisam ser interpretados.
Para isso precisam ser ouvidos. Só a partir disso teremos olhares sobre a
diversidade dos frequentadores do P.P e também entenderemos como se desenha o
futuro do parque central curitibano. Mas não só por quem gostaria de prever o
movimento ou ocupar de forma comercial ou culturalmente correta. Devemos
envolver todos os interessados no local. Profissionais e frequentadores devem
falar sobre seu espaço dentro da cidade. Mas envolver esses dois últimos é
difícil. Os profissionais não me parecem organizados e tampouco interessados em
mobilização, visto que também tive a impressão de acomodação no local, que de
alguma forma dá retorno[32].
E os frequentadores será que tem sentimento de pertencimento ao local ou é
apenas um lugar para uso visando caminhada ou corrida, ou apenas encurtar
caminhos.
6.
Lista
de Figuras
Figura 1
|
Mapa do Passeio
Público, Gazeta do Povo. 16/05/2010.
|
........................
|
p. 03
|
Figura 2
|
Caderno de Campo, dia
01/06/2013, foto do autor.
|
........................
|
p. 05
|
Figura 3
|
Mapa do Passeio Público
com atrações e alguns profissionais, adaptado da Gazeta do Povo, 15/03/2013.
|
........................
|
p. 16
|
Figura 4
|
Caderno de Campo, dia
02/07/2013, foto do autor.
|
........................
|
p. 18
|
Figura 5
|
Caderno de Campo, dia
02/07/2013, foto do autor.
|
........................
|
p. 18
|
7.
Referências
ALVES,
Glória da Anunciação. A requalificação do centro de São
Paulo. In: Estudos Avançados. Vol.25,
nº 71, São Paulo, Janeiro/Abril, 2011.
BAHLS, Aparecida Vaz da
Silva. O verde na Metrópole: a evolução das praças e
jardins em Curitiba. 1v. 195p. Dissertação de Mestrado. Curitiba: UFPR, 1998.
CASTILHO, Cristiano. Entrevista. Curitiba, 18/07/2013.
GAZETA DO POVO. Ocupe o Passeio. Curitiba. Diversas
datas (p. 12 e 13).
GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em
antropologia interpretativa. Petrópolis (RJ): Vozes, 2012.
OLIVEIRA, Dennison. Curitiba e o
mito da cidade modelo. Curitiba: UFPR, 2000.
SOUZA,
Nelson Rosário. Planejamento urbano em Curitiba: saber técnico,
classificação dos citadinos e partilha da
cidade. In: Revista de Sociologia Política. Nº
16, Curitiba, Junho/2001.
WACQUANT
Loïc. Ressituando a gentrificação: a classe popular, a ciência e o estado na
pesquisa urbana recente. In: Caderno CRH. Vol.23, nº 58, Salvador Abril/2010.
[1] Professor de História da Rede Municipal de Ensino, Professor de
Sociologia do Curso Dom Bosco e das Faculdades Santa Cruz, Mestre em Educação,
Licenciado em História e Acadêmico de Ciências Sociais (UFPR).
[2] Evento gastronômico que
envolveu alguns chefes de cozinha e algumas barracas de cachorro quente de rua
que o nome faz trocadilho com a Virada Cultural que ocorre anualmente.
[3] Ocupação da região
central contra a criminalidade: projeto revitalização da Rua Riachuelo,
restauração do Paço da Liberdade, reforma da Praça Tiradentes, criação do
Cinema Passeio, pintura do Largo da Ordem, etc.
[4] Nasci e fiquei até os
20 anos em Guarapuava, morei em Maringá dois anos.
[5] Há capivaras soltas nos
parques de Curitiba. Nos parques Tingui, Barigui e São Lourenço esses mamíferos
são facilmente encontrados.
[6] Professora de artes e
doutoranda em Tecnologia e Sociedade (UTFPR). A presença dela ajudou a orientar
algumas decisões de abordagem e encaminhamento, bem como compartilhei algumas
decisões de investigação.
[7] Dia 06/07/2013 havia 18
barracas de artesanato.
[8] No dia 01/06/2013 após
passar à tarde pelo P.P. passei também pelo Barigui, outro parque curitibano,
porém muito mais freqüentado pela classe média da cidade. Estava com um público
maior do que o do P.P. Além de ser um parque maior com mais espaço para caminhada
e lazer, tem estacionamento gratuito para muitos carros.
[9] Ciclistas e corredores
se destacam pelas roupas e acessórios, além de mostrar empenho na atividade
desportiva, se destacam pela concentração. Há também ciclistas que vão passear,
com crianças ou não, tem atitude mais contemplativa e não usam só a ciclovia.
[10] Garçons, pipoqueiros,
garis e policiais são identificados pelo uniforme.
[11] Quanto às prostitutas
eu suponho que elas sejam identificadas pela atitude dentro do parque. Parecem
ter, em sua maioria, mais que 30 anos e muito maquiadas. Não identifiquei
garotos de programas ou michês. Sentam sozinhas nos bancos e encaram os homens.
Se houver retorno por parte do cidadão as mesmas oferecem seus serviços.
[12] Os clientes da feira trazem,
normalmente, carrinhos de compras e sacolas retornáveis.
[13] As famílias e casais
têm atitude turística: fotografia e contemplação de atrações do P.P. No caso de
famílias, de vários tipos de arranjo, também frequentam os pontos de
brincadeira: parquinho, pista de patins e pedalinho.
[14] O P.P. fica ao lado de
dois colégios públicos: Tiradentes e Colégio Estadual do Paraná (CEP). O CEP é
um dos maiores e mais tradicionais colégios de Curitiba.
[15] Fundação Cultural é uma
instituição de fomento cultural ligada à Prefeitura Municipal de Curitiba que
tem o status de Secretaria da Cultura.
[16] Parque Alvorada (Gazeta do Povo, 14/09/2008):
1961
– É inaugurado o Parque Alvorada. Na época, ele ficava nos fundos do Passeio
Público, no centro da cidade. Entre os fundadores estava o ex-governador José
Richa, na época estudante de Odontologia. 1980 – Parte dos brinquedos é levada ao Parque
Barigüi. 1996 – O
parque do centro da cidade é desativado. 2005 – Técnicos da Comissão de Segurança de
Edificações e Imóveis (Cosedi) apontam problemas na manutenção dos brinquedos
do parque. Por causa das falhas o local é interditado quatro vezes. Outubro de
2007 – O Alvorada é fechado por determinação da Justiça. A Urbanização de
Curitiba S.A. (Urbs) revoga a permissão de ocupação, pedindo a reintegração de
posse do terreno do Barigüi. 2008 – A interdição completa um ano no mês que
vem. Os brinquedos continuam no parque, mas a ocupação do espaço segue sem
definição.
[17] Esse cinema foi
instalado no local em 1996. Antes havia funcionado na Rua Schiller e Praça Rui
Barbosa. Atualmente o Cine Morgenau, está na Rua Conselheiro Laurindo e é o
último cinema privado de rua de Curitiba. As instalações foram transformadas na
casa de Show Cine no fim dos anos 1990. Essa casa encerrou suas atividades no
início dos anos 2000. O prédio foi demolido em 2012.
[18] Ginásio de esportes
pertencente ao Clube do Círculo Militar do Paraná atualmente usado só para
esportes e eventos de instituições educacionais e religiosas.
[19] O zoológico ficou no
P.P. até 1992. Foi transferido para o bairro do Boqueirão. Atualmente no P.P.
funciona hospital de animais de pequeno porte e exibição de aves, macacos,
cotias, jabutis, lagartos, peixes e cobras.
[20] O shopping fica a uma
quadra do Passeio. Foi inaugurado em 1983 e oferta produtos para a classe média
e classe média alta. Nos últimos 10 anos o shopping foi ampliado. Aumentou seu
estacionamento com a compra de um terreno na quadra em frente à Rua Matheus
Leme. E instalou uma passarela com esteira rolante sobre a rua. Também instalou
cinemas (CINEMARK) na parte superior do prédio.
[21] Instalação de ciclovia
sem sinalização adequada junto a pista de caminhada/corrida.
[22] Apesar de na mesma
matéria afirmar que o local recebe diariamente cerca de mil visitantes.
[23] Trata-se de dois lagos
com fundo de concreto. Um deles com oxigenação de uma fonte que funciona no
antigo palco flutuante. Até 2008 tinha peixes e cágados. Desde a limpeza desse
ano os animais foram retirados e não foram colocados de volta. O problema de
sujeira é crônico. Foram realizadas várias limpezas desde então e a água
continua com aspecto desagradável, verde, sem vida.
[24] Talvez isso denote
preconceito, principalmente com as prostitutas. Além disso, em matéria
publicada no dia 18/07/2013, na Gazeta do Povo, os locais públicos no centro de
Curitiba com registro de ocorrência são as praças: Tiradentes, Santos Andrade,
General Osório e Eufrásio Correia. Esta última é a com maior índice de
criminalidade, principalmente ligada ao tráfico de drogas.
[25] Caderno de Campo,
06/07/2013.
[26] Um roteiro com
brincadeiras, teatros infantis e atividades educativas levou cerca de 40
crianças atendidas pela Fundação de Ação Social (FAS) e moradoras do Lar André
Valério Corrêa ao Passeio Público neste sábado. (...) Cama
elástica, teatro e brincadeiras diversas a partir das 9 horas. Nesse sábado,
aconteceu mais uma edição e contou com o apoio da Regional Matriz da
prefeitura, já em comemoração aos 320 anos da cidade. (Gazeta do Povo,
02/03/2013)
[27] Ele não precisou o
tempo. Mas foi suficiente para se empolgar na conversa e fazer análise do P.P.
[28] São usuários de drogas
(álcool principalmente) e/ou moradores de rua. Segundo o cabo entrevistado eles
se recusam a sair do parque e também o atendimento da assistência social.
[29] Eles trabalham fixo no
P.P. Também disse que está há alguns anos no local.
[30] Equipamentos instalados
pela prefeitura para, preferencialmente, atividades físicas da terceira idade.
Em frente a Rua Luiz Leão, ao lado da CEU.
[31] Não há barracas dessa
iguaria no cotidiano do Passeio, nem nos fins de semana.
[32] Pipoqueiros há mais de 30 anos e o ex-lambe-lambe há mais de 50.
Parabéns muito bom blog!! Continue assim !
ResponderExcluir